O inesperado nos toma de açoite! É como chuva de verão, vem, passa rápido, deixando o cheiro na carne que grita o exílio dos vivos! Os demônios estão em toda parte, o inferno está deserto! Está com medo? Pois tem que ir com medo mesmo! Viver é um verbo que se conjuga no presente! Coragem é só circunstância! Palavra vazia de sentido e cheia de significados! Ao menos para os que se encontram na parte secreta de seus seres! Aliviado refúgio buscado na poesia! Mas mesmo essa inconstante arte não satisfaz os que se atrevem a se apaixonar! Como explicar uma satisfação que vira fome? Uma felicidade que busca outra felicidade? Como explicar o balançar das folhas e o flame da noite após o dia? Como explicar a lâmina gelada da espada da saudade atravessando o peito sem deixar sangue? Como explicar a dor dilacerante da ausência de todos os dias sem nenhuma ferida? Como sentir a chuva sem se molhar? Como ganhar o jogo se não jogar? Como ser solidário sem se doar? Como explicar o que é humano a não ser com humanidade? Como descrever o amor se você não amar?
Gicelma Chacarosqui–Pós-doc pelo ECCO, UFMT, Doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP; Mestrado em Estudos Literários pela e graduação em Licenciatura em Letras Português Literatura Brasileira pela UFMS (1992). É professora adjunta da UFGD.