Dourados, 09 de Maio de 2025

LEI CONTRA O DESEJO? O MODISMO E A FANTASIA PERIGOSA DOS DECRETOS SALVADORES
LEI CONTRA O DESEJO? O MODISMO E A FANTASIA PERIGOSA DOS DECRETOS SALVADORES
LEI CONTRA O DESEJO? O MODISMO E A FANTASIA PERIGOSA DOS DECRETOS SALVADORES

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A Câmara de Dourados, sempre atenta ao clamor das causas que rendem manchetes politicamente corretas, aprovou na última segunda-feira, com pompas e louvores dignos de campanha eleitoral, o projeto “A Rua é Pública, Meu Corpo Não!”, do vereador Franklin Schmalz. A proposta é justa, justa até demais para os padrões do plenário — que gosta mesmo é do jogo de empurrar responsabilidades para outros.

Sim, as ruas devem ser seguras para as mulheres. Sim, é papel do Estado garantir que nenhuma pessoa — seja homem, mulher, trans ou seja lá quem for — corra risco ao transitar em espaços públicos. Mas… sempre há um “mas” incômodo que ninguém ousa trazer para o debate: há limites para a eficácia de leis que tentam legislar sobre desejos e impulsos humanos.

Não há decreto que consiga lacrar o olhar de quem vê, muito menos blindar o corpo de quem se expõe. E aqui é preciso dizer o que a patrulha costuma censurar: parte dessa exposição é, sim, incentivada por modismos que flertam com a sexualização ostensiva — quando não com o puro fetiche de se autoexibir.

As ruas próximas das universidades viraram, de tempos para cá, passarelas do “quanto mais pele à mostra, melhor”. Shorts mínimos, tops que dispensam blusas, saias que denunciam mais do que escondem. Como dizia minha mãe, “mostram a polpa da bunda sem medo de ser feliz”. Na feira, na missa, no barzinho ou na saída do cursinho — o figurino é quase sempre o mesmo.

O apelo da moda encontrou nas redes sociais um palco sem limites para a auto-exposição. Influencers fazem a festa. E o mundo real, como é de sua natureza, imita — sem filtros — a ficção vendida em vídeos e reels. Resultado? Homens despreparados para lidar com o não e com limites se sentem encorajados. Errados, criminosos, repulsivos — mas não cegos.

A pergunta que não se cala é: de que adianta uma lei condenar a lascívia alheia, se o próprio ambiente se transforma num convite tácito ao desejo descontrolado?

Antes que algum lacrador de plantão atire a primeira hashtag, um alerta: não se está, aqui, culpando a vítima. A crítica é ao modelo de resposta fácil e inócua que o poder público insiste em empurrar: criar leis — que acabam sendo recados emoldurados na parede, como aquelas campanhas escolares contra o bullying.

Talvez fosse mais honesto, além da legislação, provocar um debate mais profundo, menos moralista e mais pragmático: há limites para o que é prudente no vestir, especialmente em ambientes e horários sabidamente perigosos? A liberdade de escolha não deveria vir acompanhada de responsabilidade e bom senso?

Enquanto Franklin Schmalz e seus pares comemoram a aprovação unânime do projeto, a realidade bate à porta sem pedir licença — como fez o estuprador que atacou mais uma universitária outro dia próximo à Unigran. Leis não o impediram. Campanhas não o demoveram. E dificilmente o farão sozinhas.

No fim, fica a velha máxima que vereadores adoram ignorar: educação — dentro de casa, nas escolas e nas redes sociais — ainda é a melhor e mais difícil lei para se aprovar e colocar em prática.

Enquanto isso, a moda segue seu desfile. E o perigo também.

Fonte: Contraponto MS

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