A informação chegou entre chiados e micro-ondas mentais, enquanto eu testava minha antena Starlink — prevenção básica, afinal ninguém quer ficar offline quando o apocalipse trumpista começar. Do outro lado da linha celestial, estava ele, o deputado Eduardo Bolsonaro, transmitindo direto da terra do Tio Sam, em mais uma de suas sessões de estratégia global, ao lado de patriotas exilados, influencers armamentistas e evangélicos à procura de exílio fiscal.
O interlocutor da vez era o colega Rodolfo Nogueira, o Gordinho do Bolsonaro, douradense de fé cega e barriga cheia, que ouvia com atenção o ultimato do 03: “Arruma as malas e vem logo. A missão te espera.”
Não, não se tratava de um tour pela Flórida, tampouco de uma reunião sobre o pós-Papuda num Starbucks da Times Square. Pelo tom da conversa, temperado com alaridos trumpistas e bolsonaristas — tudo junto e misturado —, parecia que Eduardo falava direto do cercadinho da Casa Branca, após uma reunião de “trabalho” no Pentágono ou num rodízio de costela texana.
Juro que captei a seguinte frase: “B-2, eu no comando, você, que tem boa mira, só aciona as bombas. Quiném o chefe fez com as minas de urânio no Irã.”
Desliguei. Coloquei meu Rivotril debaixo da língua e fui dormir. Afinal, tinha compromisso cedo com minha nora Isabela, para levarmos o neto Oliver — fofo, sorridente e completamente alheio à insanidade golpista — para tomar vacina.
Mas nem o amor de avô impediu a volta dos pesadelos. Pesadelos dignos da era dos faniquitos uragânicos, com trilha sonora da saracura à beira do Laranja Doce. Do tipo que misturam o furto do meu iPhone em Douradina, quando fui visitar o Sidley Alves (em busca de uma sinecura com a prefeita Nair Freire), com uma acalorada discussão entre Rodolfo e o mito — já nos preparativos da viagem conspiratória.
Pelo que pude reconstruir da transmissão — e convenhamos, privacidade e antenas Starlink nunca coexistiram —, a tensão começou porque Rodolfo queria levar a esposa, Gianni Nogueira, vice-prefeita de Dourados, para acompanhá-lo nos States. A justificativa? Das mais compreensíveis: “Não posso deixá-la de ladinho (de gabinete, claro) com o Marçal Filho.”
Mas Bolsonaro, sempre “o gentleman”, acalmou:
— “Deixa de ser besta, Rodolfão. Conheço bem o Marçal, meu colega de baixo clero. Com ele, a Gigi não corre risco. E mais: ela é minha e boi não lambe.”
Rodolfo tentou protestar, mas o capitão foi mais rápido e ainda jogou a isca da confiança:
— “Vai tranquilo. Se eu for preso, alguém precisa comandar as orações na tenda em frente à Papuda. O Tarcísio já rodou e o Malafaia tá meio herético. A bola tá contigo, meu apóstolo fronteiriço da Grande Dourados”
Reconfortado com o novo papel — capelão da cadeia patriótica — Rodolfo só pediu um favor:
— “Chefe, diz pro Dudu que posso mais do que acionar bomba. Na época do Irãzinho (Garcete), pilotei jatinho com cargas paraguaias. Posso ser co-piloto.”
E, com brilho nos olhos, ofereceu o extra:
— “Se quiser, eu mesmo cuido do Xandão. Nem precisa ser no Supremo, até para não colocarmos em risco nosso ministro terrivelmente evangélico, o André Mendonça. Miro naquela careca reluzente durante uma de suas caminhadas matinais na Península dos Ministros.”
Moral da história: Eduardo Bolsonaro não foi aos Estados Unidos apenas para “influenciar” Trump a aplicar o tarifaço — espécie de chantagem diplomática pra aliviar a barra do pai. Não. Ele está lá mesmo é tentando tirar um brevê militar para pilotar os B-2, aqueles bombardeiros invisíveis com que o bufão laranja atacou o Irã.
O alvo número 1? O Palácio do Planalto, durante reunião ministerial, com Haddad balbuciando “meta fiscal” e Marina tentando salvar o que sobrou da Amazônia.
O alvo número 2? um picolé de groselha pra quem adivinhar… Acertou: o STF! Preferencialmente com Alexandre de Moraes lendo a sentença final de Bolsonaro e seus generais.
Acordei com o Sol batendo certeiro no rooftop do prédio de Rodolfo e Gianni — visão privilegiada da minha sacada. Liguei pro amigo Racib Rarb, que é vizinho do casal, pra saber se já tinha alguma movimentação. Sem resposta. Tentei contato com Luana Ruiz, a suplente do Gordinho na Câmara. Também nada. Talvez tenham achado que era golpe — e, tecnicamente, era mesmo.
No fundo, tudo se encaixa. Como naquele post recente de Gianni Nogueira comentando o tarifaço de Trump, em tom histérico, nos stories: “Bomba! Bomba! Bomba!”
Agora sabemos: não era alarme. Era spoiler.